“Nova década, novas regras. Velha fórmula”
Uma crise colossal atingia o gênero horror. A falta de investimento e interesse dos estúdios cinematográficos parecia querer sepultar de vez as intermináveis franquias oitentistas, deixando órfãos uma legião de fãs. Foi nesse cenário que o diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson deram a luz a Pânico, um filme que conseguiu recuperar a fama dos “slasher movies” e ainda angariar uma nova leva de admiradores no processo.
Grande parte do sucesso de Pânico deve-se a fórmula utilizada para conduzir a sua história, adicionando várias referencias aos “irmãos mais velhos dos anos 80” a um roteiro bem construído e com um “quê” de horror italiano, o bom e velho mistério sobre quem seria o assassino. Após quinze anos, duas sequências, diversas cópias e outras tantas paródias, a dupla Craven/Williamson está de volta com Pânico 4 na tentativa de repetir o sucesso obtido pelo filme original.
A comparação é válida se levarmos em consideração o período atual, bem parecido com a época em que Pânico foi lançado. Se antes o problema era a qualidade, hoje é a tremenda falta de vergonha na cara dos estúdios, que deixaram de lado a criatividade para investir em cópias de ideias que funcionaram e também em uma infinidade de remakes de tudo o que puder ser refilmado.
Poderia Pânico 4 dar um novo gás ao gênero? A má notícia: é claro que não! Surge outra pergunta: mas, então, a nova investida é ruim? A boa notícia: também não. Pelo contrário, é ótima. É a melhor sequência da série e redime completamente aquela bomba que foi Pânico 3. Por mais incrível que pareça, o roteirista Williamson conseguiu utilizar o conceito abordado pelo original juntamente com todas as ideias surgidas nessa nova safra de 1996 para cá.
Isso sem contar com o maior charme da franquia que são as referências ao mundo cinematográfico. Williamson se mostra um verdadeiro fã de cinema fazendo alusões não só ao gênero horror – nas diversas citações aos filmes antigos – como também a outros tipos de produções. Em determinado momento, dois policiais discutem sobre os clichês que levam os oficiais de policia a serem assassinados e um deles ainda tem o nome dado em homenagem a um famosíssimo ator. Genial. Até a volta da trinca de personagens da trilogia original – Sidney, Dewey e Gale – é bem explorada nesse novo filme.
Na trama, a eterna vitima Sidney Prescott retorna a cidade de Woodsboro para promover o seu livro de auto-ajuda provando para si e para todos que conseguiu superar os traumas causados pelos eventos dos filmes anteriores. A cidade ficou famosa após a franquia fictícia Stab - os filmes dentro do filme – ter alcançado um relativo sucesso, já estando em sua sexta sequência. Tudo parecia bem até que um assassinato nos moldes dos cometidos anteriormente obriga o agora xerife Dewey Riley a impedir a saída de Sidney de Woodsboro em prol da investigação.
Nesse meio tempo somos apresentados aos novos personagens, Jill, a prima de Sidney, suas amigas Kirby e Olivia, seu ex-namorado Trevor, e também a Robbie e Charlie, dois estudantes da escola de Woodsboro que fazem parte de uma turma de cinema e organizam anualmente o “Stab-a-thon”, uma reunião onde os fãs da franquia Stab assistem a uma maratona dos sete filmes fictícios. Gale largou seu trabalho como jornalista por causa do casamento com Dewey, porém se sente tentada a investigar os assassinatos ocorridos após o retorno de Sidney.
Falando nos assassinatos, não podemos esquecer o nosso amado Ghostface. Se antes ele tinha basicamente os telefones fixos para realizar suas ameaças, agora conta com os milhares de aparelhos de telefone celular espalhados por ai. E ele está mais violento do que nunca! Inclusive há uma cena que remete até ao primeiro A Hora do Pesadelo em matéria de sanguinolência. Outra grande sacada do filme é investir muito nas ligações telefônicas. A voz do dublador Roger Jackson está simplesmente perfeita, na sua melhor performance da série até aqui.
Enfim, Pânico 4 ainda tem lá suas mancadas, como patética força policial de Woodsboro, mas cumpre muito bem o papel de entreter e divertir o público, sendo fã da série ou não. Vale a pena conferir na telona essa nova investida da dupla Wes Craven e Kevin Williamson. Uma volta criativa e respeitosa, ainda que não tenha tido o mesmo resultado do filme original. Prova de que o tempo pôde deixar esses dois tão afiados quando a lâmina de Ghostface.
PS. Se você que já viu o filme se sentiu assustado por ter conseguido responder a todas as perguntas referentes ao cinema de horror feitas pelo Ghostface, saiba que você não está só.
PS 2. Não deixe de conferir o Sexta Cast sobre a trilogia Pânico, que ficou muito bom.
6 comentários :
Meu amigo Aurrei, assisti esta obra que posso afirmar é maravilhosa, principalmente para mim que adoro esta "metalinguagem pós moderna" a desconstrução que não só reiventa como também cria e refaz coisas que já estavam esquecidas, olha, este filmeme fez sentir um prazer maravilhoso, e no final... o texto, fez a platéia bater palmas, de arrepiar. É, não esperava sala cheia, e plateia comportada, interagindo com o filme no time certo.
Panico 4 (vale mais do que apena, otimo)
Não quis dar spoiler no texto, mas vou mandar aqui nos comentários. Pânico 4 é uma espécie de remake do primeiro. E deu certo. Com uma motivação até crível para os assassinos da vez. Como disse, melhor continuação desde o primeiro. Muito bacana rever os cenários de Woodsboro. E o policial se chama Anthony Perkins. scelente.
Anthony Perkins ?
Não é o nome do ator do Norman Bates em Psicose ?
Se for, excelente sacada =D
Aham, é bem bacana. Chamam ele apenas pelo sobrenome, depois quando o bicho tá pegando chamam ele de Anthony.
Concordo com tudo que foi dito. Pânico 4 é o segundo melhor filme da quadrilogia.Foi uma ótima atualização da franquia. e as coisas tem uma razão pra acontecer, assim como usarem o tema de Remakes..sem ser um remake.
Praticamente perfeito.
O que eu adorei é que não é um remake, mas ao mesmo tempo praticamente é. E ficou do caralho. Palmas para a dupla Craven/Williamson.
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